Atendimento

Atendimento às crianças que necessitam acompanhamento em atividades escolares como: provas mensais e bimestrais, auxilio em projetos escolares, e outras necessidades.

quinta-feira, 21 de março de 2019

O Professor e a convivência com o TDAH

 Que vida de Professor não é nada fácil, todos nós já sabemos. Não é nenhuma novidade, né. São profissionais desvalorizados, com salários defasados e uma carga horária que vai muito além do que consta na carteira de trabalho, já que o Professor passa boa parte do seu tempo em casa preparando atividades, corrigindo provas e buscando novas técnicas para auxiliar seus alunos.
 Até aqui todos nós sabemos, mas essa é uma luta que vai muito além da mudança nas leis. Passa primeiramente por uma mudança cultural e social de valorização. Porque o Professor é aquele que forma boa parte da estrutura mental e social do ser humano, dividindo apenas com pais e cuidadores essa responsabilidade.
 Mas o que venho trazer aqui é uma reflexão sobre a convivência em sala de aula com o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade). Não estamos falando de apenas uma criança e/ou adolescente com o transtorno. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 3,3% da população infantil possuem o TDAH, mas que 2,3% dessas crianças não sabem que têm a doença. Estamos falando que, em uma sala com 30 alunos, em média 1,5% das crianças apresentam o TDAH, diagnosticadas ou não. E essa estatística poderá aumentar nos próximos anos, com o avanço das pesquisas que envolvem estudos de atenção, controle inibitório e outros estudos neurológicos que interferem diretamente no TDAH.
 Pode parecer pouco, mas estamos falando apenas de um dos transtornos encontrados na escola. Com a inclusão escolar hoje temos muito mais crianças com necessidades especiais na sala de aula, e nem todos tem direito ao Professor de apoio.
 Não entendam que sou contra a inclusão escolar. Muito pelo contrário. Todas as crianças precisam da escola e acredito que essa convivência com a diversidade traz benefícios para todos. E é um direito e deve ser cumprido.
 Mas na realidade as escolas ainda não tem o suporte necessário para que toda essa inclusão aconteça. Não tem verba, não tem apoio, não tem capacitação adequada para todos os Professores, etc.
 E quem mais sofre são as escolas públicas. Porque na escola particular há mais diagnóstico, mais atenção por parte dos pais, mais materiais pedagógicos disponíveis, mais estrutura para auxiliar em todo o processo. Muitas crianças são acompanhadas por Psicólogos, Psicopedagogos, Médicos. Em algumas escolas, os pais pagam pelo Professor de apoio.
 Mas nas escolas públicas não há nada disso. O espaço é apertado, as salas de aula estão lotadas, com pouca estrutura de mobília e ventilação inadequada. Muitas dessas crianças não têm estrutura familiar e algumas nem mesmo alimentação ideal em casa. O Professor ganha mal e tem uma péssima estrutura para trabalhar. E Professor de apoio é algo que só se consegue para casos graves, como paralisia cerebral por exemplo. Um verdadeiro caos.
 E quem mais sofre com tudo isso é o TDAH, que não tem ainda um bom suporte nas escolas. Pouco se sabe sobre ele e é urgente a necessidade de capacitação de toda a escola. Sim, de toda a escola, não apenas do Professor.
 Muitas crianças sem diagnóstico ainda são taxadas apenas como crianças “difíceis”. Até porque é um diagnóstico complexo, que envolve uma equipe multidisciplinar e um conhecimento mais apurado dos profissionais que fazem esse diagnóstico. E ainda há muito preconceito com a saúde mental no Brasil e muitos pais simplesmente não aceitam buscar ajuda para seus filhos
 É nítida a falta que faz um profissional da Psicologia nas escolas, tento par orientar os Professores e outros profissionais da escola, como para auxiliar na avaliação e no encaminhamento para outros profissionais, e assim se chegar ao diagnóstico. Mas essa é uma briga a parte, que já está há anos no Congresso aguardando votação.   Não existe interesse nesse tipo de apoio, que nos tempos de hoje mais do que nunca se faz essencial.
 E o Professor? Onde entra nessa história?
 É ele quem aguenta todas as dificuldades diárias. Na maior parte das vezes sozinho, em salas de aula lotadas, com crianças com e sem diagnóstico. Essas crianças promovem um movimento contínuo dentro da sala de aula, entre conversas em tom de voz alterado, passeios pelo ambiente, solicitações para sair da sala, driblagem de regras, implicâncias com os colegas, indisciplina, etc.
 E o Professor geralmente tem outros casos em sua sala, como crianças que enxergam pouco, que ouvem pouco, com DI (Deficiência Intelectual) sem diagnóstico, e em muitos casos crianças com necessidades especiais e Professor de apoio. Mas que mesmo acompanhadas, são de responsabilidade desse Professor.
 Não pensem que esse Professor é indiferente, que simplesmente não gosta da criança. Em casa, todos os dias, ele se pregunta como pode preparar uma aula mais atraente, como pode tentar manter a criança ocupada na carteira, como pode ajudar na aprendizagem, entre outras preocupações. Eles realmente se preocupam com seus alunos. 
 E esse Professor estuda, lê, investiga, busca por atividades infinitas. Mas também tem sua casa, sua família para cuidar, suas demandas pessoais. Tem uma vida que quase sempre fica esquecida. E muitos ainda são pais de crianças com TDAH, e precisam chegar em casa e continuar toda aquela agitação.
 Porque a energia que gira em torno do TDAH, só quem convive entende o que é. E chega mesmo a trazer um esgotamento físico e mental em todos à sua volta. Se é assim para os pais, muito mais é para o Professor.
 E estou falando de Professores de crianças. Porque os Professores de adolescentes também estão exaustos. O tempo de convívio com eles é menor, mas não menos desgastante. Vão de sala em sala a cada 50 minutos. E cada turma traz sua particularidade. E seus TDAHs.
E não há tempo para dar atenção especial para o adolescente que necessita. Mal há tempo para conseguir administrar todo o conteúdo proposto para o ano letivo, e as cobranças são muitas. Quem dirá ter tempo para dar atenção individualizada para cada adolescente que apresenta dificuldade de aprendizagem.
E que na maioria das vezes chegou até aqui sem nenhum reforço no controle inibitório, ou seja, são adolescentes impulsivos, que não pensam pra falar e nem para agir, e que quase sempre aprenderam comportamentos inadequados e viram a atração de todo o grupo, gerando gritos e euforia a cada má resposta no Professor.
Entendem agora como é importante que se voltem o olhar para esse Professor e que haja mais atenção escolar com o TDAH? É uma criança “difícil” mesmo, mas que só quer ser amada e entendida. Que necessita de atenção e carinho. Mas que esse Professor se sente impotente em poder ajudar. E a cada ano que passa mais “difícil” vai se tornando a criança, porque ela mesma para de desejar aprender e passa a buscar na bagunça a aceitação social.
E no fundo, o que toda criança quer é aprender e ser aceita socialmente. E o que todo Professor quer é que a criança aprenda. Mas nem uma coisa nem outra andam acontecendo. Pelo menos na maioria das escolas brasileiras.
Texto: Érica Lopes
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